Nasci e cresci nesta grande e famigerada metrópole chamada São Paulo. Mais precisamente na tão famigerada Zona Leste. Comecei a trabalhar aos 14 anos, mas só aos 16 passei a depender do transporte público para chegar ao trabalho e à escola que eu estudava na época.
O metrô de São Paulo, principalmente para quem mora na Zona Leste, tem algumas particularidades que só quem o utiliza diariamente sabe. Nesta época, aos 16, eu perdia um tempo absurdo para sair de casa e chegar ao trabalho por não conhecer estes pequenos macetes. Era empurrado, esmagado, tomava pescotapas e cheirava suvacos. E olha que nessa época ainda nem existiam os famosos celulares e seus donos funkeiros/pagodeiros/paquitões.
Como os atrasos estavam se tornando mais constantes, tanto para chegar ao trabalho como para voltar e ir para a escola, tinha que encontrar um jeito de, pelo menos, perder menos tempo – uma vez que “ganhar tempo” e “transporte público” são expressões que não existem na mesma frase.
Com tanto tempo de experiência, resolvi escrever este prático Guia, que traz dicas para você se foder menos quando for usar o metrô em São Paulo. Clique aí e continue lendo.
Antes de mais nada, alguns dados. A primeira coisa que eu descobri: cinco minutos fazem, sim, muita diferença. Chegar cinco minutos antes na estação, partindo da ZL, faz com que você tome de 35% a 75% menos tapas, segundo o IDMAM (Instituto Daniel Magri de Análises Metroviárias). Quando falamos de empurrões, o estudo aponta redução de 66%. O estudo não apurou encoxadas e reladas de mão em nádegas/seios/vaginas/coxas/pênis.
Outra tática que aprendi e aprimorei ao longo de 10 anos foi a “Tática Rincon”. Como o ex-jogador, volante do Corinthians, use seus cotovelos. Sem dó. Quando o metrô lotado parar na plataforma e abrir as portas, abra suas asas e acotovele as pessoas. Principalmente aqueles babacas que ficam com seus fones de ouvido parados na porta propositalmente para que ninguém mais entre no vagão. Nestes casos também está liberado o uso da bicudinha na canela.
Ao se deparar com as “Entidades do Metrô”, pessoas que encostam em você e não desgrudam, fingir que você perdeu o equilíbrio é a tática recomendada. Quando o metrô andar, solte seu peso levemente em cima da pessoa, como se você estivesse caindo mesmo.Como ela está mais desequilibrada que você, as chances dessa pessoa cair são enormes e as chances de você sair do metrô com um sorriso no rosto são ainda maiores. Uma variante dessa tática surge quando uma pessoa mais baixa que você encosta a cabeça no seu braço. Não hesite em dar umas cotoveladinhas na nuca dela.
Outro detalhe importante é aprender a embarcar no metrô. Em horários de pico, é muito comum que as plataformas fiquem lotadas e você perca minutos preciosos para entrar no vagão. Nestes momentos observe o seguinte:
– Se na ponta da plataforma estiver um aglomerado de mulheres, corra. Não sou viado, adoro mulheres, mas elas costumam ter uma espécie de síndrome do pânico quando o assunto é entrar no metrô. Se não passa uma composição vazia, com bancos e revistas Caras/Claudia/Marie Claire colocadas para elas lerem, elas não entram e ficam barrando a porta. Obviamente, você também deve fugir de pessoas com crianças, casais e senhores. Os velhos nunca se locomovem como as velhas. Elas são mais ágeis. Prefira portas com senhoras e jãos. Elas são empurráveis e eles empurram.
– Feito isso, NÃO pare exatamente nesta porta que você escolheu. Vá para a porta ao lado, e fique mais ou menos no fim da fila. Você deve fazer isso para que quando os jãos empurrarem a senhoras, o caminho ficará livre para você se “esgueirar” pelo lado e cortar o resto da fila gigantesca que estava atrás desse povo todo. Desta forma, você se isenta de ser acusado de empurrar e evita de arrumar briga com os jãos, entrando invicto no metrô.
IMPORTANTE: Depois que você entrar no vagão e ele fechar a porta, observe a quantidade de mulheres que ficaram do lado de fora e confirme a teoria apontada no tópico anterior.
CUIDADO: Existem algumas pessoas que também se consideram ratos de metrô. Você as identifica da seguinte forma: quando eles querem embarcar, viram de costas para todo mundo, seguram com as duas mãos na parte superior da porta e empurram com a bunda/costas. Fique atento com esses tipos e coloque o seu cotovelo diretamente na base da coluna da pessoa que fizer isso. Se possível, dê um jeito de tirar o apoio que eles fazem com as mãos, ou bloqueio-os com seus pés, evitando que eles façam a alavanca com os pés deles.
Para o desembarque, se o vagão ainda estiver cheio e você longe da porta, a “Tática Rincon” novamente é a melhor escolha.
Se qualquer pessoa te incomodou durante a viagem e você quer se vingar, a dica é ficar o tempo todo ao lado dela e pegá-la quando ela for desembarcar. É aí que entra o “Rodo do Vega”. Essa tática requer cuidado e atenção. O movimento consiste em colocar o pé , sorrateiramente, para o fulano tropeçar quando ele estiver descendo do metrô. Contudo, ele só pode ser usado quando você perceber que as portas já vão ser fechadas. Isso porque se o cara cai e vê que você deu o rodo, ele terá tempo hábil para voltar ao vagão e te jogar nos trilhos através do vão entre o trem e a plataforma. É só pra isso que esse vão serve.
O último tema deste guia fala sobre o uso dos assentos preferenciais. De uns tempos pra cá, o número dos tais bancos azuis nos trens do metrô aumentou consideravelmente. E, consequentemente, reduziu ainda mais as chances que tínhamos de conseguir um lugar para sentar. Fora os assentos para velhos, crianças, deficientes, etc, agora criaram os assentos para gordos. Esse, pra mim, tá liberado. Nunca me deparei com uma pessoa tão imensa andando nas estações ou nos trens. Por isso, acho que esse assento é mais média do que qualquer outra coisa.
Se você conseguir um lugar em um dos bancos preferenciais, e for em horário de pico, sente-se e instantaneamente DURMA. Simples assim. Se você fizer uso dos fones de ouvido, melhor ainda. As chances de alguém te encher o saco são ainda menores. A não ser que perto de você esteja a dona mal-comida de alguma ONG. Ela vai mandar você sair. Os velhos nunca pedem, tadinhos.
Com certeza esse Guia não traz todos os detalhes que farão da sua vida no metrô mais tranquila. Mas vá por mim. Ele ajudará demais.
Fiquem a vontade para comentar e deixar mais sugestões sobre como vocês enfrentam a batalha diária que é enfrentar o transporte público, não só em São Paulo, mas em todo o País.
HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAUH Mano, esse guia merece até um segundo volume, com mais dicas de quem viaja sob uma ótica diferente. Veja bem, eu sou baixo. Quase um anão. Então meus esforços são sobrehumanos para me manter vivo dentro de um vagão de metrô. Talvez explique isso num texto futuro.
Mas o que eu queria atentar mesmo é sobre outros pontos.
– Pessoas que, se pudessem, passariam o braço por dentro do seu torax só para conseguir segurar no ferro.
– Velhos turrões e bombados engravatados que descem do metrô empurrando a multidão com a força de uma manada de elefantes.
– O cantinho ao lado das portas. Melhor espaço para viajar de pé e ainda conseguir ler.
– Velho que diz que vai descer na próxima estação. Se ele falou, tá falado. Continue no banco reservado.
– Voltar para Itaquera para tentar embarcar confortavelmente ou até sentado. Bom utilizar a dica de evitar portas com muitas mulheres.
– Jamais, em hipótese alguma, sente-se ao lado de uma pessoa com mais de 100 kg. Com certeza, em algum momento da viagem, você se sentirá incomodado com o contato físico e a proximidade da montanha humana.
– Aos sábados, domingos e feriados, o público do metrô muda. Saem jões (que vão passear com suas CGs e Gol aspirad) e entram gays, roqueiros de shopiing e casais esquisitos que não são vistos no restante da semana.
Genial meu caro Daniel,
Acho que esse guia poderia virar uma edição a ser publicada e encontrada nas livrarias da pauliceia e até mesmo em terras cariocas. Menos no sul, pois lá não tem metrô.
Deixo aqui o destaque para o “Rodo do Vega” e a “Tática Fred Rincón”. Você poderia até lecionar a respeito. São quantos mesmo?! Oito, dez milhões de usuários diariamente no metrô. Negads pagaria bem por um conhecimento tão útil e funcional.
Meu nobre Claudinho
A ideia de transformar isso em livro é até boa. Vamos ver como será a repercussão desse post e se receberemos mais sugestões. Aí é só juntar tudo e editar!
Obrigado pelo comentário!
Ah! Quanto às aulas…. te digo que a arte das ruas não se aprende numa sala de aula! hhahaha
Obrigado pelas dicas, na próxima revisão pode incluir a correlação “eu estava de boa em pé com meu fone de ouvido / veio uma turminha de neo-evangélicos cantando e acordando as pessoas pois a palavra de deus não tem hora / soltei um peido no meio dos neo evangélicos e desci.” Acho que se encaixaria bem no quesito vingança. Abs,
Outra tática boa para afugentar, pelo menos, mulheres é quando entra todos os CORINTHIANOS cantando: “Quem não for Corinthiano vai pra puta que o pariu”.
Bom, tenho vontade de meter meus dedos dentro do olho de cada um, passar arame farpado no saco, rasgando, em movimento de serra, mas… como a bandidagem é grande, eu desço ou vou rezando.
Beijos, texto muito bom.
Hehehehehe
Muito bom!
Na verdade, alguma dessas táticas eu já costumo utilizar no metrô aqui em Brasília. Só que aqui, as mulheres não esperam outro trêm, elas são bem mais brutas que os homens. Brutas e espertas, pq quando está cheio, elas sempre dão um jeito de apoiar suas bolsas, sacolas (pobre AMA uma sacola) e afins nos braços, nos ombros e onde mais for possível…
Hahahahahaha.. mt bom!Ótimo! A “Tática Rincon” é infalível.. assim como aquela pisadinha básica com o salto no pé do fulano que se acha o espertão atras de vc.. rs
Beijos
Chorei litros e litros! Só fiquei brava com esse trecho:
“Uma variante dessa tática surge quando uma pessoa mais baixa que você encosta a cabeça no seu braço. Não hesite em dar umas cotoveladinhas na nuca dela.”
😦
Hahahahahaha!! Muito bom! Se quiser algum dia eu posso relatar as minhas táticas. Eu sou a pessoa de mais de 100kg que o Helder comentou de evitar. Ser pesado tem imensas vantagens em se tratando de ter vantagem no metrô.
Peidar bem fedido também é uma tática a ser estudada, pois as pessoas vão, nem que sejam alguns milímetros, tentar se afastar do odor…aí entra em ação o puro gingado e malemolência de ir se “espalhando” pelo espaço liberado.
Simplesmente demais!!!!
Eu não uso muito o metrô. Mas fatalmente, vou anotar essas dicas e passá-las para a minha irmã que o utiliza todos os dias!
“Entidades do metrô” é sensacional!!!
Descreveu tudo com tanta verdade que fiquei imaginando vc na fila, atrás das velhinhas boazinhas e ágeis! hahahahah
Beijos